O rio que corria selvagem, ao sabor das planícies e outros acidentes de terreno, desviando-se de alguns obstáculos, dissipando a sua energia em depressões (vulgo buracos), contribuindo para a erosão acentuada das dunas, acabou por ser dominado. A esse juntou-se outro.
Circulavam em canais, muito certinhos, feitos pelo homem, para uns reservatórios. Esses reservatórios abasteciam outros canais, de menor dimensão, até ao destino final. Os caudais excedentes seguiam, através de outros circuitos, para uma bacia de dissipação até que, final e tranquilamente, depois desse último ressalto hidráulico, a corrente chega ao mar...
Era uma vez um rio...Era assim que poderia ter começado esta história tão ramificada, tão imprevisível numa primeira fase como previsível noutras. Tão semelhante a tantas outras.
Tudo corria tranquilamente, nestes circuitos perfeitamente delineados e definidos até que, sem que nada o levasse a prever, uma barragem cedeu. O paredão (e não foi “O” Paredão) abriu, e a água arrastou tudo à sua frente.
Misturaram-se as águas dos vários canais, voltaram a inundar a planície, correndo pelos vales, fazendo lagos nas depressões, provocando erosão, mas chegando ao mar livremente. De forma selvagem, mas mais gradualmente mais controlada entram no mar e aí, finalmente num abraço que parecia impossível, repousam.
Algumas pessoas ficaram felizes, por ter a água novamente perto de si. Outras, que haviam construído as suas casas em terrenos perigosos, perderam o seu aparente repouso.
Era um rio. Era uma vez uma barragem. É um rio. Será sempre um rio.
E tudo o que é compartimentado à força, um dia cede. A natureza prevalece.
Era um vez um rio. Eram algumas vezes dois rios. Eram muitas vezes dois rios. É uma corrente...
E é preciso aprender a nadar antes de entrar na água.
E hoje deu-me para a hidráulica...
Poesia em prosa...
ResponderEliminarE a água recordou-me:
REMANSOS
Cipreste
(Água estagnada)
Choupo
(Água cristalina)
Vime
(Água profunda)
Coração
(Água de pupila)
Federico García Lorca
Caro Tio
ResponderEliminarUma adenda ao comentário anterior.
O ciclo da vida de um "rio" não é MERA coincidência com o ciclo da vida de qualquer ser humano.
O seu post é poesia em prosa mas...
o título é muito de engenheiro e não de poeta.
MT
Cara Maria Teresa,
ResponderEliminarSim penso que é assim mesmo. Vidas são rios...
Há marcas que ficam...Desconhecia que se notavam tanto!