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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Da tristeza, em geral


Ontem partiu uma amiga. Sim, há algum tempo sabia que a probabilidade desse dia chegar era grande. Não lhe falava há muito, pois custava-me imenso saber da sua dor. Não por egoísmo, ou desinteresse, mas apenas por não querer que, ao contar-me, sofresse mais uma vez...  Não conseguiria suportar esse pensamento e, por isso, estupidamente, fiquei caldado. Até sempre, penso agora, com mais uma tristeza: A de não lhe ter falado. E agora nem gritando me vai ouvir. 


Esta praga ceifadora que atinge todos, sem escolher idade, sexo ou religião, aparece pela calada, quando menos se espera, é certeira, terrivelmente certeira. Poucos lhe escapam, e esses, apenas quando têm a sorte de a descobrir antes do tempo.

Custou-me mais desta vez, sim é verdade. Porquê, não sei. Revejo o seu sorriso aberto, franco e contagiante, o seu ar alegre e sempre bem-disposto e não consigo perceber porquê. Porque me custou tanto, acho que começo a perceber: Recordo o último Tango que dançámos e finalmente percebo.

Hoje, olho para o céu e sei que tem mais uma estrela, muito brilhante, que nos guia, neste mar escuro e frio. Este pensamento ajuda-me, porque ontem morreu-me mais uma parte da alma…




 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A Páscoa chegou mais cedo



Este ano a Páscoa chegou mais cedo. Associamos, no imaginário judaico cristão, a Páscoa a sacrifício. As cores predominantes são o preto e roxo. A cor litúrgica da quaresma é mesmo o roxo, que simboliza a penitência, o jejum e a oração… Nada mais apropriado ao terramoto anunciado do Banco que veio do Funchal para nos obrigar a penar, a jejuar em verdadeira penitência forçada.

Cada vez que vejo aquela cor nas montras (parece que já a estão a substituir por encarnado – talvez da paixão, simbolizando o sangue derramado?), fico a pensar nos pecados que terei cometido para merecer tal castigo… Vê-se que fui educado nesse imaginário cristão mas, depois de uma análise profunda, concluo que não fiz nada para merecer isto! E, de certeza, quem lê esta pequena prosa também não!

Bem, hoje é Natal e a Coca-Cola deu-nos um Pai Natal, com um casaco encarnado, debruado a branco. Que seja o encarnado, então. Viva o Pai Natal, viva o mundo de fantasia, que a realidade é tão má que não dá para acreditar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A festa do Pontal, ou como tudo mudou em Portugal



Sim, até a geografia mudou, porque tudo pode ser o que queremos que seja.

Detesto festas destas – deveria dizer estas festas - e este populismo forçado ainda mais, mas era verão e há anos que o nonsense se instalou e veio para ficar nessa altura do ano. Também sei que, nos tempos que vivemos, nada é o que parece ou, melhor, o que queremos parecer é o que somos. E esta festa do Pontal, que também já foi no Pontal e num hotel de um Parque Aquático, talvez prenúncio da água que metem, virou-se agora para o “calçadão” de Quarteira. Tudo certo. O nome é uma marca (faltam alguns atributos, mas tudo bem) e querem manter a marca, daí vai que o nome se mantém e se sobrepõe ao lugar. É a velha história da forma ser mais importante que o conteúdo.

Na famosa Região dita autónoma da Madeira, sobejamente conhecida pelos excessos do seu imperador, também há uma festa semelhante, com populismo qb, o Chão da Lagoa, onde se estreou este ano o nosso ex-primeiro. É uma verdadeira première, onde não faltou o Big Mack, juntamente com o picadinho, as ponchas, o bolo do caco e as “espetadeinhas”. A esta hora até marchava a espetadinha e umas lapinhas, mas não dá. Diga-se a propósito desta festa que o imperador este ano não discursou, e era pa nair mas fue…Encontrando-se “casualmente com o “rapazinho que chegou a primeiro-ministro” e  agora “já na é”. A festa perdeu com a falta da atracção principal, o rei do nonsense, anti-cubano… Esta mania de chamar cubanos aos continentais deve ser um síndroma de Oslo, o equivalente ao Síndroma de Estocolmo, para os caciques. 

Ar fresco nem com a janela aberta!

Do lado xuxialista, também houve novidades: O acampamento, muito anos 70, não sei se uma reminiscência de algo hippie ou se da sequência do hambúrguer e da viagem a Veneza, num comprimento de onda semelhante. Deu resultado, com as miúdas giras e inteligentes do Bloco à mistura. Tudo muito hippie e resultou.

Dispenso festas destas, mas vão continuar a passar-nos a mão pelo pêlo, discutindo em público, enquanto em privado, em perfeita sintonia, vão fazendo festas uns aos outros, enquanto o povinho apanha as canas dos foguetes lançados… Agora não foi um foguete, foi mais um foguetão que todos vamos apanhar!

Quanto às novidades, gosto delas frescas, como na Madeira, só com um fio de azeite, sem sal, mas agora não há novidades nenhumas. Na vida política portuguesa, não há nada de novo. Nada se cria, muito se perde e tudo é transformado para ficar com ar de mais apresentável, para o povinho engolir. O exemplo do novíssimo banco mau é isto mesmo. Há que tomar muito Kompensan (não recebo dividendos deste laboratório), para digerir isto tudo!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Saudades das curvas



Estava com imensas saudades destas viagens mas também, e confesso, morria de saudades por aquela que foi uma das minhas grandes paixões de sempre. Viagens são sempre viagens e a companhia é que interessa!
Quantas vezes pensei nas viagens que poderia ter feito e não fiz? Poucas. Viver no passado não faz o meu género, mas as saudades de a ter nas minhas mãos eram imensas. De sair com ela, de me deitar com ela, de a sentir, firme, nos percursos sinuosos da vida levando-a aos limites e ser, também, levado ao limite…De sentir a sua respiração tranquila e, abraçando-a, levá-la a um respirar ofegante, verdadeiro grito de liberdade? Não sei quantas vezes recordei e antecipei esses momentos de grande partilha e intimidade, em que os dois fomos um só.
Separados durante anos por força do destino, voltei a encontra-la este verão. Foi como se de um amor à primeira vista se tratasse, apesar do reencontro ser óbvio e de tudo me ter levado na direcção dela, como se de um destino inexorável se tratasse. Inexplicável este acaso, se é que há mesmo acasos. Terá sido a busca incessante de liberdade que me guiou até ela? Não sei. Sei que estou preso à liberdade, e gosto!
Agora juntos desafiamos rectas, curvas, voamos em pontes e viadutos atravessando rios e estradas e mergulhamos em túneis, de onde saímos sempre a olhar o próximo obstáculo com a expectativa de quem se vai superar, mais uma vez.
Dizem que ela mudou a minha vida, voltei a ser o tipo alegre e bem disposto que sempre fui. Não sei, mas acredito que sim e também sinto que a presença dela dá um resultadão com as miúdas. A minha miúda diz que com ela fico mais sexy, o que é um tremendo elogio. Se estou mais confiante? Não sei, mas dizem que me fica bem, e acredito que seja possível.
Em boa hora me voltei a cruzar com aquela Kawasaki que, na verdade, nunca deixou de ser a minha mota… A minha Kawa!

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Linho e o Minho





Quem me dera ser tão fino
Como o linho que fiais
Quem me dera tantos beijos
Como vós no linho dais…
Esta noite lá minha aldeia
Já tudo dormia só eu namorava…
Doba, doba, dobadoira doba
Não m’enrices a meada!

A preparar uma ida ao Minho, encontro estas tão simpáticas quadras no site do Clube Escape Livre… Leio mais sobre o tema do Milho, perdão do Linho e do Minho e fico a saber que o linho – que é bom como o milho – afinal existe em três espécies: O galego, o mourisco (para mim esta era a melhor) e o riga nacional, que é o menos frequente. Riga é conhecida também pelo pinho e parece que há falta de pinhos em Portugal… O linho é arrancado pela raiz, ripado, posto de molho – também poderíamos dizer que fica no gelo - a seguir apanha seca, e é depois deitado na eira para ser malhado. Deve ser daqui que vem o aforismo “sol na eira e chuva no nabal”. Reparem que o nabo não é malhado contrariamente ao linho. Já o milho também vai à eira, mas para ser desfolhado. O linho não é desfolhado, mas sim ripado! A nossa agricultura é muito rica em imagens poderosas.
Mas a senda não acaba aqui. Antes de saltar para as calças e camisas, ainda é espadelado, que é a mesma coisa que tirar os tomentos. Também se pode usar a palavra estomentar, mas não é tão vulgar… Os tomentos são a parte fibrosa da coisa, ou seja a estopa. E daí o separar o linho da estopa. Ou será separar o trigo do joio? Em qualquer caso há malha, ou melhor espadela.
E já não vou a Mondim de Basto, nem ao Minho. Nem malhar no linho ou no Minho. Nem desenriçar a meada…. Fico em casa a arranhar, que também é uma forma de malhar, mas fiquei a saber mais sobre o linho e o Minho.

Afinal o linho é bom como o Minho! Saudades vossas…