Oncle's Facebook

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Afinal sou ciumento!

Passei os últimos vinte anos a pensar que não era ciumento e eis que, por um mero acaso, se revelou esse traço negativo do meu carácter...

O acidente que originou esta descoberta ficou a dever-se à providencial interrupção do metro da linha azul, há dias. Assim tive que voltar aos velhos tempos do 28, para ir de Santa Apolónia ao Cais do Sodré e com as obras no Terreiro do Paço este atraso no meu percurso, habitualmente cronometrado ao segundo, provocou o inesperado encontro...

Sapatos com salto médio, sóbrios, meias tom de pele, saia ligeiramente acima do joelho a condizer com o casaco. Um blusa de gola alta creme e a carteira razoávelmente grande, não daria para estacionar o carro mas, com jeito, daria para guardar o portátil que tinha na outra mão. À vontade caberia um EEE de 9”. Claro que combinava com os sapatos e com o cinto, largo.

Fui registando estes detalhes ao aproximar-me da plataforma pensando que a enorme Samsonite ao lado, corresponderia a umas férias da Páscoa passadas no Sul. Seria certamente uma romântica que tinha decidido atravessar o Tejo num cacilheiro para sentir a travessia como o fim desse período de férias passadas em casa de família.

Elegante, simples, sem maquilhagem. Nem sequer uma base suave. Absolutamente nada, como entretanto confirmei. Rosto comprido, óculos fashion davam-lhe um ar interessante, de quem gosta ler e lê alguma coisa mais do que a Happy (não tenho nada contra esta revista, que até tem uma ideias muito, muito giras). Os olhos castanhos, simpáticos, riam-se com naturalidade.

A boca era era muito bem desenhada, extremamente bem marcada e sem baton absolutamente nenhum, nos lábios relativamente grossos. Sensual.

O comboio lá chegou e o imaginado pai, apesar de estar nos seus mais que sessenta (não sou nada bom a calcular idades), agarrou com facilidade na mala e colocou-a dentro da carruagem. As rodas fizeram o resto até chegar ao lugar. Não quis arriscar colocá-la na grade por cima dos bancos.

Ao chegar a Alcântara, já sentia uma pontinha de ciúme enquanto o papá da minha imaginação descansava a mão cansada (talvez do excesso de peso da mala), na perna da suposta filha. Comecei a pensar que uma boa base, suave, e um baton castanho lhe ficariam muito bem. E que pena, agora que os anos 60 estão na moda, que o Mary Quant Q29 já não se consiga encontrar... Ficar-lhe-ia bem.

Fiquei com a certeza que era ciumento quando ao passarmos em Belém já tinham começado os beijinhos no cabelo. Fiquei a pensar se seria a atracção do Herbal Essences, mas não quis perguntar.

Felizmente saí pouco depois, não sem antes ficar com a certeza que o afortunado senhor de meia idade, também era ciumento. Ou então esforçava-se para marcar terreno, mostrando a conquista com orgulho.

Vou já reler “O mundo é pequeno” do David Lodge para ficar a saber se o Prof. Morris Zapp esteve cá em Portugal. Quando li o livro não dei atenção a esse pormenor. A confirmar-se que não esteve, o que fortemente suspeito, volto para o Porto (donde aliás nunca devia ter saído nesse dia), para ir à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (já deve ter saído da Rua das Taipas) ver se o Centro de Psicologia da Cognição e da Afectividade da ainda está em funções.

Espero, com a ajuda desses investigadores, descobrir a que se devem estas minhas interpretações e a identificação de papel de pai em cavalheiros que acompanham jovens interessantes, eventualmente solteiras, em idade casadoira.

Um rápida introspecção diz-me que esta tendência não se relaciona com o facto de ser Tio (do Algarve). Mas porque será?

7 comentários:

  1. Não me parece que tenha sentido ciúmes, sentiu INVEJA!
    O ciúme é um sentimento de posse em relação à pessoa amada, a inveja é um sentimento de querer e não ter.
    O percurso seguido é que não percebi bem, foi de Santa Apolónia para o Cais do Sodré e apanhou um comboio? Passou por Alcântara?
    Não é que tenha alguma coisa a ver com isso mas fiquei "baralhada" (confesso que já sou um bocadinho, mas fiquei pior)
    Boas viagens, em boas companhias, pelo menos para os olhos!

    ResponderEliminar
  2. Obrigado Maria Teresa! Ficou mais claro esse sentimento estranho e, até essa data, desconhecido para mim. Continuo a achar que também houve uma pontinha de ciúme (...). Quando tiver um bocadinho de tempo, volto ao tema, que tem muito para desenvolver!


    Habitualmente faço esse percurso (Santa Apolónia-Cais do Sodré) de metro. Nessa viagem fiz de autocarro e por isso perdi o comboio habitual da linha do Estoril. Costumo usar essa linha para sair em Fantasy Land ;)...
    Obrigado pelos votos!

    ResponderEliminar
  3. Que teve que substituir o metro pelo autocarro eu já tinha percebido LOL
    Que depois tinha apanhado o comboio da linha de Cascais, onde viajou com o alvo das suas setas, é que não.
    Nem sempre se conseguem fazer inferências com a rapidez de um raio.:):)

    ResponderEliminar
  4. Tenho pena que os teus ciúmes tenham voltado...embora me pareça que eles foram apenas uma forma do teu inconsciente legitimar uma fantasia há muito construída que "gritava" para ver a luz do dia! :)

    Tu nem imaginas as saudades que eu tenho do 28. Também eu, durante alguns anos usava esse autocarro diariamente!

    ResponderEliminar
  5. Veruska,
    Como me conheces bem... ;)
    Também tenho saudades do 28 e até do 28A
    Bjs!

    ResponderEliminar
  6. Lamento informar, mas parece-me que essa menina é filha profissional...

    ResponderEliminar

Hmmm! Let's look at the trailer...