Há muitos anos, quando ainda acreditava que apenas era importante o sentir e não o saber, pelo excesso de um descurei o outro. Em vez de dar, recebia aulas, ou aliás, não as recebia porque as mensagens nunca chegavam ao destinatário. E assim a comunicação, de acordo com esses paradigmas da comunicação que na altura apenas adivinhava e já sentia, não se dava. As mensagens não chegavam ao destinatário. O porquê não interessa. A realidade era essa.
No entanto entre sonhos, alguns pedacinhos da realidade lá me iam chegando, sobretudo quando me serviam para entrar noutros sonhos. E assim a psicologia, ciência que até ai desconhecia, despertou um pouco dessa atenção. A necessária para me transportar para outro sonho.
A memória sempre me atraiu. Particularmente os vários tipos de memória, os mecanismos da memória e em especial um tipo de memória altamente influenciada por factores afectivos. Julgo que lhe chamavam memória autistica. Provavelmente já lhe deram outro nome ou, fruto desse tipo de memória, nunca existiu esse termo nem nunca foi falado em aula nenhuma de psicologia. Como explicar que pessoas se recordem com precisão de factos que não aconteceram com elas, mas na sua família? Ou em ambientes perto de si?
Outro fenómeno do inconsciente que me seduzia e seduz, prende-se com o vermos coisas que não acontecem, sugestões provocadas por motivos vários.
Desejarmos tanto que uma coisa aconteça que achamos que aconteceu….Será um delírio da memória? Paramnésia? Não acredito, mas às vezes a memória prega-nos partidas. Encontrarmos uma pessoa e julgarmos que é outra… Há dias fizeram-me avô de uma criança cujo pai é da minha idade. Fica para outro dia essa história e esses fenómeno psicológico e social.
E que dizer do fenómeno de acreditarmos que encontramos quem nunca vimos, mas desejávamos mesmo encontrar?
Longe das secretárias e mais ainda dos bancos da escola, à falta de melhor nome vou chamar-lhe "memória do futuro". E desculpem-me aqueles que nunca sonharam, porque os outros compreendem.
Depois das viagens a Marte, e a outros planetas, também me apetece escrever uma carta.
Não fossem as semelhanças mas, sobretudo as diferenças, chamar-lhe-ia:
“Memórias de A. num futuro sonhado”
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