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domingo, 5 de abril de 2015

Lisboa, by Fernando Pessoa



Ah como incerta na noite quente,
De uma longínqua tasca vizinha
Certa ária antiga, subitamente,
Me faz saudades do que as não tinha.

A ária é antiga? É-o a guitarra.
Da ária mesma não sei, não sei.
Sinto a dor-sangue, não vejo a garra.
Não choro, e sinto que já chorei.

Qual o passado que me tiraram?
Nem meu nem de outro, é só passado:
Todas as coisas que já morreram
A mim e a todos, no mundo andado.

É o tempo, o tempo que leva a vida
Que chora e choro na ária triste.
É a mágoa, a queixa mal-definida
De quando existe, só porque existe.



Tive o gosto de dizer este poema no último dia mundial da poesia. E soube-me tão bem!
 


2 comentários:

Hmmm! Let's look at the trailer...