Vi o Paco de Lucía ao vivo apenas uma vez, há bastantes anos. Ouço-o muito mais frequentemente e de vez em quando coloco aquele CD mágico dele com o John Mclaughlin e o Al Di Meola: Friday Night at San Francisco. Fantástico.
Hoje deixou-nos e aqui fica, de modo simbólico, este registo, a preto e branco. Triste, mas com com a alegria imensa que irradia da sua música imortal.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Protecção do consumidor, ou das consumidoras, neste caso
Não é só em Portugal que o governo está extremamente preocupado com os consumidores e altamente empenhado (não só no sentido habitual da palavra, mas no sentido do compromisso), com a sua saúde.
Aqui, tratam-nos da saúde com os preços do SNS e com impostos de levar a população a ficar sem dinheiro para as roupinhas. No Cazaquistão, na Rússia e na Bielorussia proibem a venda de lingerie que não tenha um percentagem de algodão determinada...Fica-se na dúvida se é por razões de saúde, se para proteger os interesses dos produtores de algodão, cada vez mais escasso na roupa interior feminina.
Como Portugal não é produtor de algodão, consta que o governo - sempre à frente nas coisas verdadeiramente importantes - está a preparar um pacote legislativo que obriga à introdução de uma quantidade determinada de ar neste tipo de roupa. Assim fica defendida a produção nacional de ar e vento, a maior indústria nacional, depois do sol.
Para já as rendas na lingerie são bem vindas, resta aferir o tipo de malha em causa. Ao contrário da fuga ao fisco e das pescas onde a malha foi apertada, a malha da lingerie vai ser alargada para incorporar mais ar, produto endógeno e completamente produzido em Portugal. Entretanto vai ser nomeada uma comissão de peritos dos vários sectores envolvidos onde, para além de representantes da indústria da noite, está assegurada a participação de movimentos independentes de mulheres, representantes dos maiores fabricantes de ar e vento, deputados da AR e outras forças vivas da sociedade, para além dos fabricantes e importadores deste tipo de roupa e modelos de lingerie com carreira reconhecida. Esta comissão vai estudar a transposição da legislação do Casaquistão para Portugal. Borat foi a figura aglutinadora que o executivo escolheu para presidir à comissão.
O Relatório prévio desta comissão deve ser apresentado dentro de noventa dias. Entretanto ficamos a ver passar as modas...
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
O espartilho e o particípio passado…
Dos espartilhos sei pouco. No entanto, os corpetes sempre
exerceram algum fascínio sobre mim, confesso. O corpete realça as formas da
mulher acentua as ancas, diminui a cintura, levanta as mamas, mesmo que nada
disso seja preciso. Mesmo que as formas sejam perfeitas, ao olhar e ao toque… Ou
mesmo que não sejam, sê-lo-ão sempre, se a Mulher assim o desejar.
Os cordões, a cor, o sugerir, o provocar, o deixar
adivinhar, trazem-me um não sei que de sofisticado e sedutor a que não resisto.
A sedução tem muito de preparação…
No meu dia-a-dia vou sempre à frente do tempo. Quando me
perguntam o que vou fazer no próximo fim de semana, para mim já é o fim-de-semana
seguinte, não o imediatamente a seguir… Hoje estou a pensar no dia 8 de Março,
dia da Mulher, sábado a seguir ao Carnaval.
Talvez por este adianto no tempo, por formação e força da
minha actividade profissional, não compreendo as pessoas que vivem no passado,
agarradas a memórias, presas a recordações, algumas vezes etéreas, outras mais
reais. Confesso que não compreendo como é possível recriminarem-se por coisas
que, de forma alguma, não poderiam ter evitado. E mesmo que o pudessem ter
feito, o que adiantaria? Para a frente é que é o caminho.
Assim, adoro espartilhos, mas seria incapaz de viver
espartilhado entre duas realidades, mesmo que uma delas fosse absolutamente
virtual, construída de memórias. O particípio passado, remete-me situações do
tipo condicional. E o se, para mim não existe no passado. Mesmo no presente
tenho alguma dificuldade em aceitá-lo, sabe-me a jogo psicológico a chantagem
pequena…
Adoro jogos desses mas no campo próprio. Pode ser no meu, no
dela ou em campo neutro, mas tem que ser no terreno de jogo. Espartilhos, sim.
Espartilhado, não.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Soft power sagrado ou hard porno profano?
Nem me atrevo a comentar… Porque já comentei antes, mas nãotinha o vídeo, que bem pode ir para a colecção do Panthéon (sim é para não
rimar com colecção, e fica muito mais tio). Fiquei a pensar se o soft power
sagrado tem alguma coisa a ver com as vacas sagradas. Sim, são soft porque não
têm cornos, as ditas cujas que se riem para presidentes da república, com minúsculas
de acordo com a dimensão moral e intelectual destes hard descarados que governam.
Evitei dizer que nos governam, pois como também se governam, fiquei na dúvida sobre
a preposição a usar…
Cara dura, hard face, narizes de cera, facebookdependentes
que temos que aturar e, mais difícil ainda, pagar. São o dark side desta dita
democracia que em quarenta anos ainda não soube equilibrar-se, nem mostrar os valores
porque tantos almejaram e porque tantos outros lutaram. A terceira república é,
definitivamente, a república das bananas podres que ficaram nas bananeiras por
não haver quem, de catana na mão, lhas tivesse cortado rentes…
É o dark power que se esconde na sombra gray da indefinição
e o pink power que precisa das outras sombras de grey para calibrar a sua
sexualidade envergonhada…
Monstros profanos!
E assim, com o devido respeito pelas instituições, já usei parte do jargão etnocentrista europeísta,
maoísta e pseudo cultural da actualidade, perdão: atualidade.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A propósito do desejo
Tenho lido com frequência a frase “um desejo incontrolável…”
E sem reflectir, mas sentindo esse mesmo desejo, eis-me a
dissertar sobre o tema. Dissertar, em Tiologia (ciência que se dedica a estudar os Tios e as suas relações), vem do inglês desert, por isso dissertar é
escrever sobre coisas doces ou, por vezes, menos doces (e não estou a falar do
ruibarbo).
O desejo para mim é sempre incontrolável. É quase aquela
pulsão freudiana do eros, que nunca controlo mas às vezes contenho. Por isso,
na minha perspectiva, desejo incontrolável é uma figura de estilo que dá pelo
nome de pleonasmo…
É incontrolável quando adivinho aquele perfume que conheço
tão bem e que me desperta os sentidos para um mundo de sedução. Incontrolável
quando, num jantar tranquilo, me pergunta, de forma discreta, mas com a maior
naturalidade do mundo, se sei o que tem vestido. Incontrolável quando sinto os seus
lábios nos meus, os meus no seu corpo e também nos seus lábios.
É incontrolável quando sinto aquele corpo tão perto do meu
que o abraço surge como natural, fechado. E quando o abraço e envolvo, sinto-me
também envolvido. Agarro, fico agarrado e juntos libertamo-nos do presente,
voamos até ao limite da nossa vontade, sem amarras nem limites. E o tempo perde
dimensão, nessa vontade incontrolável…
Incontrolável é pouco. Indomável, talvez.
E há séculos que não escrevo nada sobre elevadores…
Chamam a isto CRM? Vou ali e já volto, outra vez…
Eu chamava-lhe um figo, se não estivesse escrito de acordo
com o aborto ortográfico. Também não posso dizer que é pidesca, porque este
banco já foi devidamente limpo, polido e engraxado, como o Banco Para Néscios.
Tenho que me limitar ao Cliente Resistente como a M…, para compreender esta
trata dos “outros tidos como pertinentes”, pois cada vez que abro o site,
recebo esta mensagem…
E imagino o diálogo:
O senhor(a) Cliente trouxe o seu passe L1? Sabe que é muito
importante para nós saber para onde se desloca e como se desloca…
Ou, em alternativa:
O senhor(a) cliente trouxe a sua licença de isqueiro? Não existe há mais de 40 anos, mas podia ter trazido a
do seu avô…
Os empregados mais zelosos podiam ainda, delicadamente,
pedir o Boletim de Vacinas:
O senhor(a) cliente sabe que é muito importante para nós
conhecer o estado de saúde dos nossos clientes. Pode mostrar-me o seu boletim
de vacinas?
Enfim, a imaginação não tem limites, mas o texto original é muito melhor do que alguém poderia imaginar:
Estimado(a) Cliente,
A atualização dos seus
dados é essencial para a qualidade dos serviços que oferecemos e ajuda a
garantir a sua segurança e proteção.
De acordo com o
estabelecido no Aviso 11/2005 do Banco de Portugal e nas Condições Gerais do
Contrato de Depósito à Ordem, deverá manter sempre atualizados os seus dados no
Banco e comunicar-nos quaisquer alterações verificadas nos elementos de
identificação.
São considerados
elementos de identificação os seguintes:
Particulares
- nome completo,
morada completa, profissão e entidade patronal, cargos públicos que exerça, tipo, número, data e entidade emitente
do documento de identificação; outros
tidos como pertinentes.
Empresas
– denominação social,
objeto, endereço da sede, identificação
dos titulares de participações no capital e nos direitos de voto da pessoa
coletiva de valor igual ou superior a 25%, identidade dos titulares dos
órgãos de gestão da pessoa coletiva; outros
tidos como pertinentes.
Assim, da próxima vez
que se dirigir a uma Agência ou Gabinete de Empresas do Banco Bastante
Independente e Curioso, traga consigo os seguintes documentos:
- Bilhete de
Identidade, Cartão de Cidadão ou Passaporte;
- Documento comprovativo de morada de residência (carta de condução
atualizada ou recibo de pagamento de água, eletricidade, gás, telefone,
internet);
- Documento comprovativo da profissão ou da entidade patronal (recibo
de vencimento, declaração da entidade patronal, etc.);
- Certidão da
Conservatória do Registo Comercial (no caso dos Clientes Empresa).
Com os melhores
cumprimentos,
Banco Bastante
Independente e Curioso
Nota: Os sublinhados são do Tio do Algarve, assinalam os erros. O bold, também, assinala o importante. O texto é o
original.
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