Parece que já acabou, a avaliar pela euforia das pessoas na baixa das cidades e nos centros comerciais. Imagino, apenas, como terá sido há três dias atrás, como terá sido ontem, como foi hoje e como será amanhã. Depois começam os saldos e volta quase tudo ao mesmo, ou ao quase mesmo nessas catedrais de consumo, porque Janeiro tem fama e tradição de ser um dos meses mais compridos do ano...
Fico sempre triste nestas ocasiões, não por ser Natal, nem por sentir essa febre de consumo a afectar toda a gente e quase a contagiar-me.
Não fico triste por não sentir essa alegria colectiva e geral que quase me atinge. Nem por ter poucas ou muitas prendas para comprar ou receber.
Fico triste por ver que se perdeu o espírito de simplicidade e alegria autêntica que devia
acontecer, pelo menos nessa data. Fico triste por ver que se oferece, não importa o quê e a quem.
Seria suposto gastarmos algum tempo a pensar nos destinatários das ofertas e a escolher coisas que lhes dessem prazer receber.
Fico triste por ver que tenho cada vez menos tempo (e não é por causa dos blogs), para me dedicar às pessoas de quem gosto.
Fico ainda mais triste por não ter a paciência que devia com essas pessoas.
Fico de rastos quando percebo que ao fim de escassos segundos de conversa já não estou a ouvir o que me dizem, antes a pensar em milhões de coisas que gostava de ter feito e não fiz, ou que vou fazer a seguir quando terminar essa não conversa. Sinto-me mal quando percebo que não ouvi nada do que me disseram ou quiseram dizer e deveria ter ouvido...
Sinto-me mal quando não estou atento para as entrelinhas das conversas, verbais ou não verbais. Sinto-me especialmente mal quando essas pessoas, são pessoas que gosto e estimo.
Vou aos arames quando se aproveita esta altura do ano para juntar a família e irritar alguns com críticas pouco subtis, em momentos que não se podem, ou querem, defender. Mais vale não convidar.
Fico triste por ver que há pessoas para quem a vida se resume a competição de carros, casas, motas, barcos, aparelhagens e etc.
Fico triste por ver que o ordenado extra que a generalidade dos portugueses recebe no final de Novembro ou meados de Dezembro, não serve para outro fim que não comprar coisas que podiam e talvez devessem ser compradas noutra altura.
Exemplifico com três situações:
Situação um:
Na fila da caixa do supermercado, o marido vira-se para a mulher e dispara:
-Então afinal não queres aquilo?
-Se achas que sim...
Sai da fila e aparece passados instantes com um micro-ondas nos braços.
Situação dois:
Família de aspecto simples deambula por entre as gôndolas (as do Continente, pois claro). Marido à frente, mulher no meio e filho atrás, a fechar a comitiva e a empurrar alegremente um carro de compras ainda vazio.
O leader indica, apontando o dedo às prateleiras de iogurtes:
-Vês? Se quiseres, leva. Anda moço, põe no carro, vamos.
Situação três:
A terceira história? Imaginem-se no parque de estacionamento do Norte Shopping à procura de lugar, entre os profissionais de Norte Shopping e não preciso de escrever mais nada sobre o assunto.
Reflicto mais um pouco sobre estas histórias e ...
...Será que as pessoas são felizes assim? Provavelmente são mesmo felizes assim. Então está tudo bem.
Nem tudo é mau, e a vida não é toda em tons de cinzento.
Gosto dos dias sem nada para fazer, que se esgotam rapidamente.
Gosto de ver pessoas alegres, gosto de as divertir com o meu habitual humor, nesta altura tendencialmente menos sarcástico e mordaz...
Gosto do sabor da aletria e do arroz doce que lembram, de forma doce, momentos passados e agradáveis em família.
Gosto desses dias, que voam, até à passagem do ano.
Gosto de trocar prendas quando se fixou, previamente, um valor máximo e se sorteou a pessoa para quem vamos comprar.
Adoro pensar numa pessoa e descobrir o que ela gostaria de receber.
Adoro essas descobertas...E comprar essas prendas.
E o meu Natal? Espartano, como não podia deixar de ser. Este ano tive uma alegria inesperada! Recebi uma mensagem de uma pessoa que não via há séculos. Afinal há Natal! E até gosto.
Boas e muitas festas para todos.
É bom tê-lo de volta!
ResponderEliminarObrigado e Bem Vinda a esta casa!
ResponderEliminar