Meus queridos Filhos da Puta,
Disse Orwell na sua
Animal Farm que todos os animais eram iguais mas uns eram mais iguais que
outros. Mais de sessenta anos depois, diz o povo que todos são iguais, mas uns
são mais iguais que outros, referindo-se às pessoas. E assim nos tem ensinado a
vida, desde sempre e daí estas minhas palavras. Sei que não me ledes, mas o
tempo se encarregará de vos fazer chegar esta mensagem…E como também não estou certo
que sereis capazes de compreender agora o que escrevo, o sermão seria
preferível. Mas não posso chegar a todos …A verdade vem sempre ao de cima e a
repetição é a forma mais simples de apreender, razão que também me levou a preferir
a E-pístola, versão electrónica das tradicionais em papel. Gostava de vos olhar
nos olhos enquanto vos falo, e dizer-vos na cara o que penso de vós, mas não
posso chegar a todos ao mesmo tempo... Peço-vos assim, meus caros filhos da
puta, que partilheis estas palavras com os vossos iguais. Aos que me lêem, e
não o são – sei que não tenho nenhum leitor nesse grupo - peço, ainda mais
encarecida e afincadamente, o grande favor de difundirem estas minhas palavras
por todos quantos conheçam, sobretudo se estiverem perto dessa espécie a que
hoje me dedico.
A facilidade de linguagem dos dias de hoje permite que se
misturem, abusivamente, vários conceitos. Assim acontece convosco! O apodo que
vos deixo e que não deve confundir-se, em caso algum, com os filhos das
meretrizes, por quem tenho o maior respeito. Aliás, em rigor não há filhos de
meretrizes, pois essa palavra caiu em desuso. E também, à semelhança de outros
fenómenos que foram abolidos por decreto, a profissão foi proibida e assim
deixou de existir. Também tenho por essas mulheres o maior respeito. Vidas
difíceis, suportam muito mais do que merecem e podem, na maior parte dos casos.
Mas esta E-pistola não é para elas. Os seus filhos, às vezes indesejados, eventualmente
abandonados, por força ou necessidade, são, na maior parte das vezes,
estimados, amados e mimados. Quantos inocentes desconhecerão a origem dos seus
gadgets de último modelo e quantos sacrifícios fizeram as suas mães para lhos
dar? Mas também não é para eles este sermão, nem para os filhos de outras
mulheres também chamadas putas sem o serem, como muitas que trabalham em bares,
strips, peepshows e outros locais da noite que andam à volta do sexo. Afinal o
que não andará à volta do sexo?
Estas palavras também não são para filhos de outras mulheres,
muitas vezes erradamente, chamadas putas, ou putas finas, quando na realidade
se dedicam apenas a fazer companhia a homens – e mulheres, ou ambos –
temporariamente sós ou com companhias pouco interessantes. E, por igual motivo,
também não é para os filhos das trabalhadoras das linhas ditas eróticas, operadoras
de telefone altamente especializadas, nem para os filhos das profissionais de
outras formas de sexo virtual.
Hoje dirijo-me a vós, outros homens (e algumas mulheres
também) que, erradamente são chamados filhos da puta. As vossas mães não têm
culpa, nem sabem do epíteto que vos dão e, muitas vezes, até são umas santas
(não confundir com a
Santinha do Rabo de Saia), apenas educaram mal os filhos,
ou não conseguiram educar melhor, já que eles eram tão maus que nem a melhor
educação do mundo os faria melhores…
É a vos, falsos filhos das
falsas putas a que me dirijo. E como sois falsos filhos de falsas putas, sois
falsos por natureza! E, como falsos, não sois fiáveis, nem fidedignos. Não
podemos confiar em vós, nem merecem crédito. A falsidade está na vossa essência
e o engano no vosso modo de estar.
Visto desta perspectiva,
parece de inteira justiça que estas duplamente falsas personalidades mereçam atenção
redobrada! Os falsos-falsos filhos da puta, são os que estão habituados a subir
na vida pondo-se em cima dos outros. Colocam-se em cima dos outros para os
foder. Não como o missionário (very old-fashioned, by the way), ou como as
ditas putas poderiam consentir, mas na perspectiva de os pisar, calcar ou
arrasar para ficarem um bocado mais altos.
Puro engano, pois ao
esmagar os outros, estais a enterrar-vos na miséria moral que tentais disfarçar
com artigos de luxo, de preços exorbitantes e gosto duvidoso… Esses artigos, há
quem diga supérfluos, são na realidade muito necessários para satisfazer os vossos
egos deformados, para tapar as estaladelas no verniz que, colocado à pressão,
dura muito pouco e estala facilmente.
Vós, alegados filhos da
puta, sois os tipos que fazem a vida a tentar sacar o mais possível, esmagando
os fracos para darem mais aos amigos, outros filhos de outras putas, pela mesma
ordem de raciocínio... Os vossos amigos são de conveniência, claro está, pois
nesse mundo oco, não há nada verdadeiro… Ao acabar a fonte de interesse ou o
vil metal de algum negócio chorudo, acaba-se a amizade, começam outras novas
amizades que duram enquanto o interesse se mantiver.
E estou cansado de vós,
sejam mais educados ou menos educados, de gravatas menos feias ou mais feias,
de discursos mais ou menos hipócritas, porque demagógicos serão sempre…E sois
cada vez mais, meus não irmãos! Sois tantos, sois demais!
A terminar deixo-vos com
uma reflexão. Diz o povo: Filho és pai serás! Não se esqueçam pois dos vossos
filhos. Habituai-os bem, desde pequenos e, sobretudo, as vossas filhas.
Acautelai para que, de filhas de filhos, não passem a mães dos ditos! Eles vão
fazer-vos sentir o que de pior fizestes sentir aos outros.
Lembrai-vos sempre do
primeiro mandamento: Amarás o dinheiro sobre todas as coisas!
Ide enquanto podeis.