A língua, esse terrível instrumento de sedução a que já me tenho referido, e de que tanta gente em situações difíceis se serve, também pode servir afinal para fazer perder uma causa...
O velho ditado “enquanto houver língua e dedo … ” tem hoje
uma nova formulação e uma dimensão que povo acharia impensável, mesmo com a
mais vibrante imaginação (cuidado com as vibrações). O dedo tem, hoje em dia,
vindo a substituir a língua ou, melhor dizendo, a língua tem vindo a ser substituída
pelos dedos. Sim, sei que poderíamos usar estas duas ferramentas, potentes
auxiliares da comunicação humana, afincadamente em conjunto com outra, mas não.
Os dedos vieram e conquistaram o seu espaço próprio.
Esta tendência manifesta-se sobretudo nos mais jovens, mas
tem alastrado a todas as gerações e a ambos os sexos. Não se pense que é
exclusivo de um só sexo…Vejo com frequência senhoras já com idade respeitável a
usar os dedos, dedilham afincadamente, muitas vezes com menos discrição do que
seira de esperar. Os homens também dedilham, e bem, apesar de podermos ser
sempre melhores, na opinião delas…
E a língua? A língua de Camões tem vindo a ser esquecida
nesta nova forma de comunicação onde os telemóveis e os laptops e outros tops
são cada vez mais frequentes. Acho inacreditável que se use uma mensagem para
escrever uma coisa que podia ser dita, obtendo resposta imediata, mas
compreendo os pequenos bilhetinhos de amor via text.
Diz o povo, sempre com razão, que pela boca morre o peixe
mas, como falamos cada vez menos e teclamos cada vez mais, será agora “pelos
dedos morre o peixe”? Pois que seja. O que e não quero é usar os dedos (e uso
quase todos) para criticar o desgoverno do país e vir a ser escolhido para
secretário de estado de qualquer coisa. Não quero, mesmo que fosse Secretário
de Estado da Dança, porque a dança das cadeiras não faz parte dos meus gostos.
Vejam as últimas nomeações e percebe-se do que estou a falar, perdão, a
dedilhar. Escrevem uns post a bater no governo e ... zás, ei-los com cargos no
desgoverno!
E se fosse ministro, já que dos socretinos aos coelhones e
coelhinhos nenhum me tem escapado? Aí cito Augusto Gil, que vale a pena
recordar sempre:
“Fiz asneiras abundantes e a maioria delas em verso rimado.
Versejar na época recorrente é ridículo, é vexatório, é indecência fóssil.
Todavia, há pechas mais degradantes: ser pederasta, ou rufião – ou ministro ….
Perdoem-me o emprego desta palavra obscena.”
E eu não faço versos... Pior ainda!
PS: Este pedacinho do Augusto Gil foi tirado daqui. Para a
semana volto para me dedicar à vizinha na varanda e prestar mais uma homenagem.
À vizinha e ao Augusto Gil... Disse dedicar e não dedilhar. Repararam?
Reparei sim! Embora o consiga imaginar a dedilhar a vizinha, já o Augusto Gil não! :):):)
ResponderEliminarAbracinho meu!
É muito observadora a Maria Teresa...Vamos dedilhando por aí!
ResponderEliminarBjs
ResponderEliminarFiquei curiosa, confesso,
Em conhecer mais do poeta
Que até agora desconheço.
Faltou-me um verso pra quadra
Faço-a na próxima vez
Não é um caso de esquadra!
Está na hora de ir dormir
Hoje isto não está pra versos
Pois estou de sono de a cair.
Beijinhos rimados à mão
No rosto dou-tos pra próxima
Estes são pro coração!
(^^)
Afrodite,
EliminarQue verso giro! Isso é que é talento. E fica a promessa dos beijinhos...
A história com a vizinha está para breve.
bjs
Vou achar muito estranho quando vir alguém a comer gelado com os dedos. Abraço!
ResponderEliminarPois é...E lamber os dedos também! Abraço.
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