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terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Teatro Anatómico



Afinal parece que a sociedade, enquanto ser pensante, pouco organizado mas com vontade própria, não morreu.

Contrariamente ao que parecia há dias, mostra sinais de vida, mas precisamos de mais tempo para ver se não são contracções involuntárias provocadas pelo rigor mortis… Estas manifestações, de pessoas que até há bem pouco tempo preferiam ficar no sofá, na casa de fim-se-semana ou aproveitar um dia de greve para um fim-de-semana romântico em Paris, serão sinais de vitalidade ou tremores de fim de vida? O tempo o dirá, mas parece certo que os New-Frankenpedras que se deleitavam em experências post-portem, gozando, como qualquer caloiro de medicina, com as partes dos cadáveres em estudo, vão ficar a pensar duas vezes…

Ao tentar impressionar as caloiras com a sua coragem - atendendo à cultura googliana dos nossos estudiosos de anatomia, talvez devesse usar a palavra alcáçova (e aqui fica uma private joke para os meus colegas, desculpem): Coragem, Google, Força, Google, Fortaleza, Google e, finalmente, Alcáçova! E a frase ficaria assim: Ao tentar impressionar as caloiras com a sua Alcáçova (soa mellhor assim, não soa?), colocam-se no insustentável e moralmente repugnante caminho da profanação dos restos mortais dos seus irmãos… 

Não chegou em vida vender os anéis, sangue e órgãos e alugar o corpo, condenando os objectos de análise a uma vida de escravatura. Depois de o julgarem morto gozam com o aparente cadáver! O que nos salva é que os cursos foram feitos como todos sabemos e estes setores não sabem medir a tensão ao paciente povo que afinal estava vivo. Moribundo, mas vivo! Pode ser que acorde, ganhe vontade própria e comece a usar o cérebro em vez do estomago, e o coração em vez do fígado! E assim não seremos enterrado vivos....

A sobrevivência do moribundo não é trocar este médico por um curandeiro voodoo, a sobrevivência é mandarem-nos uma junta médica, que nos receite uma dieta equilibrada e bastante exercício físico. Tirem-nos as garrafas de oxigénio envenenado e deixem-nos respirar o ar livre dos nossos campos... E estes aprendizes de feiticeiro, guiados pelo feiticeiro mumificado, em fez de fazerem olhinhos às vaquinhas que lhes sorriem, que façam olhinhos aos touros. A tourada continua!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O acordo ortográfico


Sempre fui, sou e serei avesso a este conjunto de novas regras de escrita a que pomposamente deram o nome de acordo ortográfico. Tentei por várias formas e em vários momentos ironizar com esta treta do acordo, chamando-lhe vários nomes, desde A Cor do Horto Gráfico, até Acordo Hortográfico. Se alguém tiver curiosidade, pode seguir os links e comprovar que há anos que tento chamar a atenção para essa treta. Idem, para o homónimo de Bolonha e ainda não tive tempo de me dedicar à gramática que vou chamar degenerativa ou transformista. Ainda não tive tempo, mas quero registar já a patente do nome.

Há muito pouco tempo, confesso, decidi que me era indiferente o acordo. Gerou muito pouco consenso, na altura, mas hoje certamente há mais consenso sobre o tema. Francamente, quando vi esta pergunta nas Lições de Bom Português na RTP1, antes do pequeno-almoço, percebi que sou indiferente ao dito. Desde aí tenho falado muito pouco sobre o assunto. Mais importante que o aplicar, é aplacar esta revolta, crescente, perante tanta insensatez. Há mais consenso agora, até sobre os destinos da RTP...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A agência tusa


Depois de uns dias de férias sem telefone, internet ou televisão de regresso às actividades blogosféricas e ao trabalho, sou bombardeado com os protestos dos trabalhadores da Rádio Televisão Principesca, contra a privatização da dita.

Tudo começou, ao que parece, com a entrevista de um desajeitado perito em privatizações que muito convenientemente largou a ameixa…

Logo de seguida houve quem apoiasse a iniciativa e outros tantos que acharam que não se podia tocar naquilo a que já chamaram vaca sagrada. Evidente que, à boa maneira deste governo que prima pela falta do que sobrava ao anterior, a comunicação foi um desastre total….Como em muitos acidentes, ninguém tem culpa, mas ninguém tem razão. O Tio, revigorado, não podia deixar de meter a colher neste processo.

Todos os governos querem ter a sua máquina de propaganda, diligentemente oleada com os assessores de imprensa, com as agências de comunicação, enfim a Agência Tusa, no seu melhor. Como não acredito em coincidências, nem tenho a mania da perseguição, não posso deixar de ver nesta manobra uma mão na relva, passe a hipérbole. O político mau quis privatizar, mas o bonzinho lá salvou a situação…Só que aqui, neste desarranjo que nos assola todos os dias, o mau é mau e o bom também é mau.

E os guardiões da vaquinha sagrada que diligentemente apoiaram a transformação da Empresa Devidamente Phodida em Empresa Definitivamente Perdida, estão agora contra igual processo, na quinta deles. E o pior é que têm razão, pois o que na realidade foi anunciado, foi mais um disparate, em que uns ganhariam e todos nós perderíamos, pois iriamos pagar uma renda, pela gestão dessa auto-estrada da contra-informação. Com a agravante do Contra Informação, dos poucos programas potáveis, já ter sido banido da grelha!

Sim, estou revoltado, mas não pela privatização da dita vaquinha. Francamente é-me indiferente que privatizem ou não esse canal, ou outro qualquer órgão de comunicação social (deixem-nos a 2!), ou o metro, ou ainda a carris. Chocou-me sim o processo da REN, o da EDP, ou da Petrogal, dos Telefones de Lisboa e Porto com integração na PT, com a posterior privatização e, claro, o do BPN, a verdadeira ameixa no fundo da panela. O que me revolta, como acontecia no tempo dos socretinos, é a desfaçatez das pessoas, a impunidade dos actos e passividade do povo…Revolta-me que se diga que o estado gere mal, quando nós somos o estado, revolta-me que se privatizem os lucros e nacionalizem os custos, revolta-me que se tire aos que não podem fugir para dar aos que fogem, revolta-me que se corte nos que cumprem as leis, para dar aos que as fazem!

Por tudo isto, acho que o governo não precisa de mais uma correia de transmissão com o poder da Rádio Televisão Principesca, com os custos que tem e a programação que todos sabemos. Deixem-nos a 2!Levem os anéis penhorados, mas não nos obriguem a pagar uma cautela anual, para manter privilégios. Cumpram a lei que desde a década de 60 limita os ordenados dos funcionários públicos e estendam-na, dentro do espírito da mesma, às empresas públicas…E, sobretudo, usem o dinheiro dos nossos impostos para pagar o transporte até à fronteira desses quadros de empresas públicas que ameaçam ir para outros países se não lhes pagarem principescamente. Até pode ser em executiva!