Ia caminhando, discretamente, com
os cofres cheios, no seu passeio semanal da terra dos pobres até à dos ricos e
regresso. Supostamente tirava dinheiro aos ricos, que habitavam na terra dos
pobres, para dar aos pobres, que também moravam na mesma terra. As más-línguas
diziam que, na realidade, tirava dinheiro aos pobres para dar aos ricos do
reino dos pobres, mas essa é outra história.
Um dia, o rei daquele povo,
desconfiado com tantas idas à terra dos ricos para pedir dinheiro, já que o
tirava aos ricos do país pobre não chegava para as necessidades do reino,
perguntou-lhe o que levava naqueles cofres tão pesados.
A rainha que já era conhecida
como santa luís, pelos milagres da multiplicação que teve que fazer depois do
rei mago, gaspar dois, ter abandonado o reino, ficou atrapalhada. Na verdade
talvez os cofres não estivessem tão cheios como dizia mas, se os tivesse muito cheios
o rei poderia ficar incomodado, já que os protestos dos pobres do reino dos
pobres se avolumavam, como também se avolumava o número de pobres no reino…
Sem hipótese de outra solução,
tentou a fuga para a frente, ao bom estilo socretino – que, como sabemos,
acabou no Alto Alentejo, num convento especial. Assim, calmamente, disse ao
rei: Meu senhor, estes cofres estão vazios, vou agora à Germânia, ver se
consigo arrecadar uns milhões. Vejo um horizonte 20 cheio de dinheiro, nessas
promissoras terras dos ricos e quero trazer os cofres cheios, para o nosso povo
que passa fome.
O rei, desconfiado, pois já tinha
ouvido o rumor de que os cofres estariam cheios, pediu-lhe que os abrisse. Sem
outra possibilidade, a rainha luís, olhou em direcção ao leste e abriu-os
mesmo. Para surpresa dela, os cofres estavam mesmo vazios! Em segredo pediu-lhe
desculpa pela desconfiança e continuou o seu caminho. A rainha luís, desde essa
altura, ficou conhecida como a santa do milagre dos euros.
E os cofres? Estavam mesmo
vazios! Mais tarde veio-se a descobrir que tinham um buraco no fundo. Por mais
que tirasse aos ricos e aos pobres o dinheiro nunca chegava para as
necessidades do reino. Por isso, em verdade vos digo: Mais vale um cofre sem
buracos que uma rainha milagreira e um rei desconfiado.