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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Campos, Pontes e Estradas



Que toda a classe política que tem governado o país das maravilhas, nos últimos trinta anos, partilha da mesma sauteuse, não temos dúvidas. Evidente que poderia dizer que comem todos da mesma panela, ou da mesma gamela (neste caso a versão nortenha sobrepõe-se), mas nos círculos desta cáfila, não se usam frigideiras, nem panelas e as referências aos tachos podem ser mal interpretadas. Por isso prefiro sauteuse.
Infelizmente esta certeza que muitos vão aguentando na esperança que, não podendo eles próprios, um parente, mesmo afastado, possa chegar às migalhas dos abastados comensais da política contemporânea.
Ontem vimos, talvez sem surpresa, que afinal quem fiscaliza também olha para o lado, quando convém. Melhor ainda: indica as pedras para que estas piranhas possam encontrar o caminho certo para chegarem aos ossinhos das presas! A desfaçatez com se disse que a solução para mais contratos ruinosos foi articulada com a entidade de fiscalização das arcas públicas (o que ninguém duvida), só foi comparável à revelação de que um dia estão dum lado da secretária exigindo mais mordomias e no outro estão do lado de quem diz que vai cortar nas mesmas…Nojento! A mim, chocou-me. Mas sobretudo a ideia de que os tais 700 milhões não seriam um proveito de quem fez tais contratos, mas sim dessas feras que ninguém se atreve a domar e que juntas são os tais ferozes mercados… Doce ilusão (deve ser a sobremesa), tão demagógica quanto o embaratecimento das ditas estradas, pela nova contratação! Podemos não saber de quem foi o proveito. Do custo é fácil de identificar a paternidade, somos todos nós que o acarinhamos, para que não fique órfão como a culpa! Pobres infelizes o custo e a culpa, que têm que recorrer à massa anónima dos portugueses para existirem…
Nunca tive dúvidas que estes caminhos, pontes e estradas que atravessam estes Campos tão falaciosos, nos dirigem a alta velocidade para um abismo. Felizmente ficou de fora o comboio de alta velocidade, caminho alternativo para o dito abismo, mas ficou a certeza que todos contribuíram para esta situação, que nos arrasta para o degredo mais profundo.
E hoje, dia da Implantação da República, estes que nos governam deviam ter vergonha de se auto-intitularem republicanos, de proclamarem os ideais da República, de celebraram esse dia com que muitos sonharam e pelo qual outros tantos deram a vida. Seja feriado ou não e seja eu republicano ou não, há que fazer justiça: Foram honestos, eram intelectual e profissionalmente honestos e competentes e tinham ideias e ideias!

8 comentários:

  1. Excelente e bem realista este texto, Tio!

    E não haja dúvida de que caminhamos mais rápido para o abismo, do que se fossemos a bordo do TGV!
    O desnorteio é tanto que hoje, até a bandeira nacional foi hasteada ao contrário.
    Há 102 anos atrás houveram efectivamente, ideais e ideias. Hoje, restam alguns ideais por parte do povo, mas as ideias de como sair deste imbróglio, são nulas.
    Beijos, Tio.

    Que pena não ser de 1908...tempo da monarquia!!

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    1. E o Poncius Cavacus mostrou bem o frouxo que é com a bandeira...Hesitou, como sempre e depois fez asneira.
      Essa do 1908, tem que se lhe diga..
      ;-)
      Bjs

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  2. Excelente este seu texto.
    Tudo o que assistimos hoje é o culminar da falta de respeito que essa corja que está no poder tem pela república e pelo povo.
    Mas a voz do povo tem mais poder do que eles pensam.

    beijinhos

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    1. O despudor é tanto que enoja...
      Nunca pensei que pudessemos chegar a este ponto!
      Bjs

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  3. Suponho que não sou republicana nem monárquica... tentando explicar isto sem ser mal interpretada e dando o exemplo simples da bola... o jogo que deveria ser o mais importante, em vez de ser do sporting ou do benfica, e em vez do simples prazer de ver ou jogar, conseguiram transformar tudo num pântano apodrecido onde o jogo maior é entre poder e dinheiro, portanto, voltando atrás, eu só queria um sistema democrático, que em vez de pôr cruzinhas para eleger pessoas pré-seleccionadas, pela ordem do maior ao menor lambe-botas, poder escolher pessoas honestas, competentes, com percursos de vida que nos dessem garantias, éticas e morais, mínimamente fiáveis (o que iria excluir quem há pouco tempo largou as fraldinhas ou que até consegue o direito de subir na lista, por causa do papá ou do padrinho e não por qualquer competência ou capacidade intelectual), talvez assim, não sentisse que, seja qual for o trocadilho, andam sempre a enfiar-nos o barrete e acabamos chupadinhos até "aos ossos", um tipo de escravatura em que só mudam os termos mas as consequências são sempre as mesmas, sermos escravos de nababos incompetentes que, sem a mínima ética ou moral, só querem dinheiro, mordomias e poder, sejam eles de sangue azul, laranja, rosa, vermelho...
    Quanto à voz do povo de que fala a Fê... depois das últimas privatizações, será tarde demais porque, desde que consigam fazer esta última golpada e ainda com dívidas de milhões e respectivos juros, vai ser a mesma coisa que ficar a gritar para a parede, com uma mão à frente e outra atrás.
    Se há uma coisa que me tira do sério é ninguém se ralar quando "ouve barulho no galinheiro quando as raposas andam a comer as galinhas, mas dormir é tão bom no quentinho dos lençois e depois, pela manhã, é que se berra ai Jesus que se foram as galinhas"
    Não me esqueço que até voltaram a votar em corruptos e até achavam o comportamento moralmente aceitável... enfim... agora... não vai haver milagres.

    Bjos

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    1. Compreendo o que dizes...Penso um pouco da mesma forma. É pena que a sociedade civil não seja mais organizada e participativa, mas é sempre barulho no galinheiro do vizinho!
      Escolher os melhores seria o ideal, mas mesmo não sendo possível, há cada vez menos pessoas disponíveis. É preciso estar no sistema, e quem lá chega fica rapidamente corrompido. Gostei das fraldas!
      Bjs

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  4. Há tempos que não passo por aqui, vejo com gosto que a crise ainda não nos afectou a lucidez, por enquanto... gostei particularmente, em detrimento da sauteuse a expressão "gamela" é por ventura mais elucidativa. Vivemos tempos complicados, somos tão ou mais responsáveis do que eles, o povo votou... o povo demitiu-se de exigir rigor, optando pelo mais fácil; continuar na praia ou nas esplanadas, empanturrar-se com fast-food nos centros comerciais, dando a ideia de que nós é que somos os velhos do Restelo, que não gostamos de TGV'S pró abismo.

    Grande abraço, já falei demais...

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    1. Olá viva!
      Não sei como, mas este status que tem que mudar! O tacho já está rapado que chegue! Nunca e demais falar!
      Abraço

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