Por muito que nos esforcemos a preparar percursos, o que não é o caso, há sempre algum imprevisto. Desta vez foi o encontrar-me, de repente, sem que nada o fizesse prever, sozinho. É evidente que este “sozinho” tem pouco a ver com solidão, como algum eventual leitor, recém-chegado, pudesse deduzir da carga simbólica da palavra. Viver sozinho, mesmo em part-time, é um exercício que gosto. O receio da habituação, viciante, egoísta, é que podia ser caso de reflexão mais aprofundada, leia-se deitar-me numa diva (divagar deitado, não confundir com nadar nalgum mar de devassidão). Mas o tema era uma sobre uma ida ao chopingue (acordo hertográfico).
Aconteceu que, com muito gosto e a pedido de um colega, fui dar uma aulinha, no Porto. Aproveitei para matar saudades e, como sempre, tentei por a assistência a participar, interagindo com o suposto “palestrante/orador”. Acho que consegui e o período de perguntas, depois da explanação (esta é forte), estendeu-se com gosto de ambas as partes por uma hora. Fiquei satisfeito e quase vaidoso quando dois colegas que assistiram me disseram que estava em forma...É fácil quando nos pedem para falar dos temas que gostamos.
Este preâmbulo serve apenas para justificar o porquê de, num Sábado à uma da tarde, em dia de chuva torrencial, o tio estar a entrar para o carro sem saber para onde ir... Um imprevisto, outro erro de cálculo, e a hora era imprópria para conversinhas do tipo: Olha já não te falo há mais de um ano. O tempo passa depressa. Já estás a almoçar? Ou pior ainda: Estou aqui no Porto, já não venho cá há séculos e lembrei-me de te cair na sopa...Tempos houve que adoraria fazer uma conversa destas, mas não me apetecia naquele dia. O portão eléctrico deixou-me sair e enquanto esperava que algum simpático automobilista me deixasse entrar na fila (há coisas que não deixam saudades no Porto e o trânsito é uma delas), lembrei-me de fazer um post sobre o Sábado livre de trabalho. Alguém simpático lá me deixou entrar, à boa maneira do Porto fiz-lhe adeus (e até era gira a senhora) e segui.
O problema do para onde ir foi-se acentuando enquanto pensava na quantidade de gente que não trabalha ao Sábado, ou então trabalha no carro a deambular pela cidade, sem rumo...E eis que cheguei à velhinha Rotunda, conhecida por poucos como a Praça Mousinho de Albuquerque, e quando o monumento da Guerra Peninsular me arranca um sorriso (o de Lisboa deveria ser igual...), pensei que tinha encontrado a solução do problema: Sítio com Internet, onde pudesse comer qualquer coisinha (refiro-me ao almoço e não ao resultado de qualquer actividade cinegética ou piscatória). O Cidade do Porto, aka Bom Sucesso era a solução. Lembrava-me dele como um sítio sossegado, com pouca gente, e ainda de um cibercafé em frente à Valentim de Carvalho (bons tempos...) onde ia, às vezes, no auge do hotmail e onde uma vez, enquanto procurava o cartão de utilizador assisti a uma entrada triunfal da polícia. Não era a ASAE, senão teriam máscaras.
Enquanto estas recordações esparsas me iam chegando à consciência, dei por mim à procura de lugar no dito cujo (ah lión, carago), e já no piso -3. Lá arranjei lugar par o barco (sim com a chuva que caía já se tinha transformado em barco), agarro no Toshas e vou para os elevadores. As recordações foram-se tornando mais claras no que diz respeito aos elevadores deste Centro Comercial e do tempo de espera (também tinha que ter algum defeito, não?). Estou naquela ante-câmera tão simpática e começo a sintetizar informação. As memórias varreram-se e começo a processar informação, qual robot do conhecimento.
Um marido e pai gentil pára junto à porta, deixa a família e vai procurar estacionamento. Um casal de meia-idade chega também ao local. Uma senhora sozinha (não, não aconteceu o que estão a pensar) e casal de namorados adolescentes, muito agarrados para ocuparem menos espaço também chegam ao hall dos elevadores. São os primeiros a desistir e vão pelas escadas. Os restante ficam e o elevador finalmente chega, e é o mais perto de mim. Meto o braço para ver se não fecha e deixo entrar toda a gente. Era o grande e ainda sobrou espaço. Foram saindo os passageiros do autocarro vertical, nas várias paragens ao longo do percurso excepto a senhora com os miúdos cujo marido tinha ido estacionar o carro. Deixo-os sair e saio também...
Nunca poderia imaginar que aquele local tinha tanta gente. Senti que se tinham passado uns anos desde que lá tinha entrado pela última vez e que também não estava habituado aos centros comerciais ao Sábado. As lojas já não eram as mesmas, não tinha ideia de tantas sapatarias, mas consegui encontrar um sítio para almoçar com alguma tranquilidade. Nem sequer me atrevi a tirar o Toshas da pasta e por isso o post ficou na imaginação. Mas vai sair...Eu também saí com alguma pressa antes que chegasse a hora dos cinemas!
Sábado, enquanto me lembrar deste episódio, não saio de casa sem roteiro e programa. É a moral desta história…