Era noite e passava tranquilamente numa rua de Viseu, em
direcção à Sé. Não ia propriamente à procura de conforto espiritual vindo da
Sé, ou da igreja da Misericórdia que fica em frente, nem sequer de um banho
rápido de cultura, pois a essa hora o Museu Grão Vasco já estaria fechado, como
também estariam as duas igrejas. As únicas capelas abertas aquela hora servem
outro tipo de vinhos, menos doces, mas bebidos de forma mais ruidosa e menos
cerimoniosa, juntamente com outros néctares alcoólicos e não só. Os acólitos
são outros e as confrarias também. Reúnem-se com alegria e de forma ruidosa,
que se avoluma com o passar das horas. Ia precisamente para uma reunião destas
outras confrarias quando, reparo numa montra iluminada, tipo anos 70.
Num segundo, revejo-me no passado, transportado pelas
recordações que os produtos expostos me trazem à memória. Pastas Dentífricas
Couto, com imagem exactamente igual à das antigas Pastas Medicinais com o mesmo
nome. Sabia que tinham sido obrigados a mudar o nome, não porque ao teclar a
palavra medicinal, com a pressa, saía medicianal, o que poderia ser uma razão
válida. Imagine-se o que aconteceria se se trocasse a forma de aplicação da
pasta, ao ler com esse erro medical… Tecnicalidades, como diria o António Lombo.
Enfim, parece que foram as pressões da
CE, ou da Direcção Geral da Concorrência ou será autoridade da conCUrrência,que
não gostaram do medicianal? Interessa pouco, mas ilustra a pobreza de quem
regula e gosta de ser regulamentado.
Não foi a pasta de dentes que me fez regressar à
adolescência, mas sim o sabonete. Imaginem que encontrei o Life Buoy, aquele
sabonete encarnado, alaranjado, com um tom tipo radioactivo que nós
acreditávamos que nos protegia de todos os males? Fazíamos todas as asneiras
possíveis e, protegidos pelo sabonete mágico, continuávamos impávidos e serenos…Nem
hesitei. Comprei logo dois e uma pasta, que já não é medicinal, mas dentífrica,
não vá o diabo tecê-las e ainda ter que mudar de nome outra vez…