Inspirado pelo post da Malena sobre o Sermão de Santo António aos Peixes, do meu ilustre homónimo que muito admiro e que cito com frequência,
sem pretender de forma alguma plagiar, ou comparar-me, eis que sinto uma
vontade imensa e inadiável de escrever sobre as portas. Que o meu irmão em
Cristo me perdoe tal afronta e que os meus irmãos me compreendam, é o que
desejo. Que se lhes faça luz no espírito e a alma os ilumine no difícil e tortuoso
caminho da portabilidade!
Vulgarmente pensamos nas portas para separar vários
ambientes. Separam a sala da cozinha, a rua do interior da casa, o quarto de
dormir da casa de banho, a despensa da cozinha… Esquecemos muitas vezes que
estas peças a que nunca damos o devido valor, também servem para os ligar!
Dizemos com desdém que o fulano A ou B saiu de mansinho pela
porta dos fundos, quando discretamente, abandonou as suas funções, talvez por
alguns fuções terem descoberto alguma marosca a quem ele, discretamente, tinha
aberto a porta lateral!
Também dizemos que saiu pela porta grande quando, por vezes
até com pouca dignidade, mas cheio de basófia, saiu para ser promovido para
outro cargo mais importante, qual Peters levado à realidade! De obscuro secretário
de estado para primeiro-ministro, de ministro para presidente, do concelho para
a assembleia da nação, da nação para a europa e assim sucessivamente! Ainda não
referi mas, em função da porta, há sempre um porteiro a ajudar a entrada ou a
saída. Se a saída for pela porta grande, abrem-na delicadamente. Se for pela
dos fundos, dão-lhe um pontapé nos fundilhos, para ajudar a saída. É a lei da
vida e dos lambe soleiras. Não imaginavam que iria dizer lambe cús ou lambe
botas, pois não? Esta ajuda é inversa se o movimento for de entrada…As
manigâncias que entram pela porta dos fundos têm ajudas delicadas do interior.
Se porém a entrada da manigância for pela porta grande, da frente, o porteiro
com toda a desfaçatez e descaramento, a faz entrar…
Ora as nossas portas, começaram por ser de armários.
Exibiam-se com vaidade nos escaparates, abrindo e fechando, para mostrar o
conteúdo do seu armário e de outros em todas as tabacarias e quiosques…. Dos
armários rapidamente passaram para o táxi, abrindo e fechando, sob medida, para
entrarem os mesmo cinco passageiros. Do táxi para a semicírculo alargado e dai
para o galinheiro foi um ápice! Sim, galinheiro e não poleiro…Os poleiros não
têm portas, ao contrário dos galinheiros…
E, atribulações abaixo e acima, para a frente e para trás,
são colocadas as nossas portas em aviões que sobrevoam todo o mundo e vêem tudo
lá de cima…
E é nesta perspectiva que as portas, como as janelas se
fecham. O porquê desta medida, nem um candidato à presidência da maior
superpotência do mundo sabe. Mas o facto é que se fecham janelas e portas nos
aviões.
E assim, de portas fechadas, perdeu-se uma oportunidade de
ouvir e de agir… de mostrar ao mundo e quem o vê, que não estamos fechados a
outras soluções. Afinal estamos mais do que fechados. Estamos presos! Presos
por uma porta que teimosa e orgulhosamente não se abre, deixando-nos reféns da
imagem de um passado de mente livre, aberta e, sobretudo, independente!
Para terminar esta pequena nota sobre portas, falta-me falar
das anteparas, que podem ser estanques ou não…a águas a óleos ou a fumos, nos
navios e nos submarinos. O nosso submergiu numa zona pantanosa, onde juntamente
com outros peixes pesados, navega em águas profundas de onde dificilmente vai
emergir. Se, por artes milagrosas o fizer, será para ficar fundeado em águas
turvas e não acredito que, depois do conforto da esquadra, venha a navegar
sozinho, ou seja ele a marcar o rumo. Fechou-se a porta da frente, abriu-se a
dos fundos. Vamos abri-la de vez e deixemos sair estes marinheiros de águas
doces pelo portaló, ou atiremo-los pela borda fora, se não saírem a bem. E
abram-se as janelas, que a casa precisa de arejar…
Há portas que nunca querem ser portões. Ao contrário da
rainha que o queria ser por um dia em vez de duquesa toda a vida, há portas que
querem ser gateiras toda a vida em vez de janelas de esperança, nem que por
dia.
E, face a isto, meus caros amigos, só nos resta bater com a
dita e sair mesmo lá para fora, não cá para dentro, como anunciavam há algum no
turismo de Portugal. Saiamos e depressa, enquanto nos resta a vontade do que queremos
ser…